Mulheres policiais militares, 65 anos de história, realizações e conquistas em São Paulo
Em 1955, o Estado de São Paulo instituiu a presença feminina na corporação; hoje elas exercem um papel fundamental dentro da Polícia Militar
Foi na década de 1950 que surgiu a ideia de empregar mulheres em missões policiais no Brasil, com o intuito de sanar lacunas existentes na organização policial. Ao observar a inclusão de mulheres no contingente policial em vários países da Europa e nos EUA, constatou-se que uma policial feminina seria mais indicada para atender certas ocorrências no setor de segurança pública, como por exemplo, a prostituição e a delinquência juvenil.
Em 1953, Hilda Macedo, assistente da cadeira de criminologia da Escola de Polícia, cujo titular era o professor Hilário Veiga de Carvalho, defende a igual competência de homens e mulheres ao apresentar, no I Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Criminologia, uma tese sobre a Polícia Militar, onde escreve: “a criação da Polícia Feminina é, pois, de se aconselhar formalmente, sendo encomiástico um voto para seu imediato estabelecimento consubstanciando uma corporação que formará harmonicamente ao lado de seus irmãos, os policiais, para o melhor cumprimento da lei de da manutenção da ordem, dentro dos ditames da compreensão, do auxílio e da bondade”.
Em 1955, o governador do Estado, Jânio Quadros, encarregou o diretor da Escola de Polícia, Walter Faria Pereira de Queiroz, de estudar a criação em São Paulo de uma polícia feminina.
Na data de 12 de maio do mesmo ano, sob o Decreto 24.548, institui-se, na Guarda Civil de São Paulo, o corpo de Policiamento Especial Feminino e, na mesma data, Hilda Macedo tornou-se a primeira comandante do Policiamento Especial Feminino.
Estava criada, assim, a primeira Polícia Feminina do Brasil, pioneira também na América Latina, sendo-lhe atribuídas as missões que melhor se ajustavam ao trabalho feminino conforme as necessidades sociais da época: a proteção de mulheres e jovens. Em 26 de maio de 1955, publicou-se o Decreto 24.587, o qual relacionava os requisitos para o ingresso no Corpo Especial. Dentre as 50 candidatas, 12 foram selecionadas para a Escola de Polícia, para um curso intensivo de 180 dias. As 12 mulheres escolhidas e sua comandante foram chamadas “as 13 mais corajosas de 1955”. Foram jovens pioneiras, mulheres desbravadoras na área da Segurança Pública o Brasil.
Somada a Sra. Hilda Macedo (1ª Comandante do Corpo de Policiamento Especial Feminino, instituído junto à Guarda Civil de São Paulo), formaram o 1º núcleo feminino em uma Polícia no Brasil. A Sra. Hilda Macedo (já falecida), com a extinção da Força Pública e da Guarda Civil, com a consequente criação da PMESP, tornou-se Coronel da Instituição.
Duas décadas primordiais para o policiamento feminino no Estado de São Paulo
O estado de São Paulo foi pioneiro na inclusão do sexo feminino na PM a partir da criação do Corpo de Policiamento Especial Feminino na década de 50. No entanto, foi somente a partir da década de 1970 que as diversas Polícias Militares no país realmente se abriram ao ingresso de mulheres.
Ainda na referida década, com o surgimento da Polícia Militar a partir da fusão entre Guarda Civil e Força Pública, foi criado o Quadro Especial de Polícia Feminina – As mulheres policiais foram alocadas no 33º Batalhão de Polícia Militar e, mais tarde, no 1º Batalhão de Polícia Feminina, subordinado ao Comando de Policiamento da Capital. Também nessa época foi criada a primeira vaga de coronel feminino na Polícia Militar.
Data de 1977 o primeiro destacamento de polícia feminina no interior, sediado em Campinas. Enquanto isso, na Capital, as mulheres fardadas recebiam as primeiras missões no policiamento ostensivo. Outro avanço importante foi na seleção e alistamento de pessoal: foi revogada a legislação que permitia o ingresso como 3º sargento PM em prol da criação de vagas para cabos e soldados.
Em fins da década de 70, o policiamento feminino já exercia papéis de destaque na estrutura operacional da Polícia Militar.
Até a década de 1990, a inserção feminina deu-se com a criação do Pelotão de Polícia Militar Feminina ou das Companhias Femininas. Dessa forma, a corporação abria-se à mulher, mas não de forma plena, e sim restringindo sua atuação a um espaço específico.
A expansão da Polícia Feminina alcança seu apogeu nas décadas seguintes, com a multiplicação de batalhões femininos na Capital e no interior, além da criação de vagas para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, cuja primeira turma se formou em 1992.
No dia 1º de fevereiro de 2001, o então governador Geraldo Alckmin, criou, no âmbito institucional, o Dia do Policial Militar Feminino a ser celebrado no dia 12 de maio, com o intuito de não se perder um fato significativo na história do Brasil e na bela trajetória da polícia no Estado de São Paulo.
Nestes 65 anos de existência, as missões das policiais militares femininas foram ampliadas e passaram a atuar, além do policiamento ostensivo, em outras atividades como: trânsito, bombeiro, choque, policiamento rodoviário, ambiental, policiamento com apoio de motocicletas ou bicicletas, radiopatrulhamento, policiamento escolar, corregedoria e assessoria policial militar, inclusive a da Assembleia Legislativa.
Representatividade feminina
Nos últimos 35 anos, o sexo feminino aumentou significativamente sua participação na PM, passando a representar quase 15% do efetivo nacional. Algumas dessas mulheres ocupam hoje cargos de alto escalão e, após muita luta por reconhecimento, passaram a ser vistas e tratadas como iguais dentro da corporação.
Uma reverência mais que merecida
Em uma singela homenagem ao Dia Internacional da Mulher, ao Dia das Mães e ao Dia da Policial Feminino, reunidos no trimestre que se segue, esta edição da Revista AOPP traz sete policiais militares femininas de diversos postos e comando para representar a corporação e receber nossos mais sinceros agradecimentos e reconhecimento.
Essas são mulheres policiais, mães, filhas, esposas e trabalhadoras que servem com bravura e coragem à nação, ao longo de 65 anos de história, conquistas e realizações. Cada qual escrevendo e participando efetivamente dessa trajetória, com plena consciência de que há muito a ser feito ainda, com amor, dedicação e acima de tudo, nunca deixando de ser MULHER.
“O policial militar não veste a farda apenas com o corpo, ele veste com alma.”
Estas foram as palavras da Tenente Coronel PM Kátia Regina Firmino Christófalo, do 3º Batalhão da Polícia Rodoviária. Policial Militar há 29 anos e apaixonada pela instituição desde os seus primeiros passos na polícia, quando ingressou na Academia do Barro Branco, carrega com muito orgulho os ideais militares sendo exemplo para sua família e colegas de Batalhão nos padrões de conduta, disciplina, honra e ética. Em casa, a Tenente Coronel cumpre seu papel de mãe, esposa e dona de casa. Em todos os aspectos de sua vida, ela pode contar com o apoio incondicional do esposo, também policial militar, e tem muito orgulho de ser essa mulher, esposa e mãe militar.
“A partir do momento em que você veste a farda é como se você estivesse vestindo outra derme, isso é motivo de orgulho e é completamente especial.”
Nos relata a Subtenente PM Elaine Françoso Ribeiro do CAvPM. Policial Militar há 23 anos, Elaine conta que essa é a profissão dos seus sonhos, pois a mesma cresceu observando seu pai vestir a farda todos os dias e ir defender a sociedade. Orgulhosa com seu trabalho, não mede qualquer esforço, está ali para ajudar, salvar e honrar a farda que veste.
“A Polícia Militar é a minha profissão sagrada”.
É com orgulho, lágrimas nos olhos e contentamento que a 2º Sargento PM Maria José Matos, do 2º Batalhão de Policiamento de Choque comenta sobre o que é ser militar. Policial há 29 anos, Maria José é apaixonada pela profissão e principalmente, pelo Choque onde está há 22 anos exercendo seu trabalho com amor, responsabilidade e muita entrega.
“Quando você veste a farda, você não pensa em mais nada, você está ali para salvar vidas.”
Foi assim que a Capitão PM Cíntia Camargo Nardy de Freitas da Hora, 2º Grupamento de Bombeiros, descreveu ao ser questionada sobre o orgulho da profissão que exerce há 19 anos. Com um sorriso no rosto e satisfação em suas palavras, Cíntia afirmou que ser bombeira é a realização de um sonho e que seu trabalho é exercido com amor, responsabilidade e compromisso com a população.
“As atividades do lar e com os entes queridos devem ser preservadas e valorizadas. Ainda mais depois da minha grande superação, que foi vencer um câncer de mama.”
Conciliar a profissão, o papel de mãe e esposa não é tarefa para qualquer mulher, é preciso ter muita garra para se dividir em tantas e ainda manter-se presente sempre, como pontua em sua fala a 2º Sargento PM Fabíola Ferreira Teixeira de Oliveira, pertencente da 1ª Cia do 1º Batalhão de Polícia de Trânsito. Cheia de vida e na certeza do sonho realizado, a Sargento está na Polícia Militar há 23 anos e após superar desafios pessoais e profissionais ela sente-se orgulhosa das conquistas almejadas na graduação atual e, principalmente, por poder realizar suas funções dentro da corporação.
“Preservar o Meio Ambiente, é preservar a Vida. Não se trata apenas de trabalho, mas sim de compromisso com as futuras gerações.”
Assim, conta orgulhosa a Soldado PM Luciana de Souza Curcino do 1º Batalhão da Polícia Ambiental. Apaixonada pela Polícia Militar, Luciana afirma que ser policial é sua grande conquista e representar a classe feminina é uma motivação pessoal, pois faz parte de uma instituição que tem evoluído com a sociedade quanto à valorização da mulher. O orgulho da profissão se mistura com a vontade de crescer na carreira militar e sente-se agradecida por receber o apoio do noivo e da família.
“Me orgulho muito de pertencer à Polícia Militar, de ser mulher. Nessa Instituição somos tratadas com igualdade, mas respeitando as diferenças.”
Disse a 1º Tenente PM do 35º Batalhão da Polícia Militar de Itaquaquecetuba, Vivian Alexandrina de Godoy Oliveira entrou na Instituição em 2004, como Soldado Temporário, e no ano seguinte ingressou como Soldado 2ª Classe. O amor pela missão de proteger o próximo falou mais alto, então em 2010, ela entrou para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, onde se formou em 2013 como aspirante. No ano seguinte, em 2014, realizando sua maior aspiração, a militar foi para o 32º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), atuando nas cidades de Suzano, Poá e Ferraz de Vasconcelos. Devido ao seu brilhante desempenho no combate à criminalidade nesta região, o 35º BPM/M de Itaquaquecetuba abriu suas portas para receber a jovem oficial que, desde então, vem somando esforços no combate à criminalidade.
Com fontes e informações do Portal do Governo do Estado, Polícia Militar do Estado de São Paulo, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.